Toda de preto, salto alto, cabelo apanhado e guarda-chuva na mão, assim andava ela.
Passeou-se pela baixa do Porto. Sozinha, com o ar fresco a bater-lhe na cara e a contemplar a beleza de alguns edifícios, misturou-se com a multidão que atarefada corria aquelas ruas. Ela não corria, ela andava sem pressa. Leve como uma pena, parecia que cada passo tinha um significado. Era o silêncio, o ser apenas mais uma na multidão, ser um alguém em que ninguém repara e mesmo assim isso não importava.
Reduzida à sua insignificância perante o Coliseu, o Teatro Nacional São João, os artistas de rua, mas por outro lado a imaginação dela ganha ainda mais vida quando passa o eléctrico. Ela sonhava. Ela vagueava. Ela pensava. Ela passeava. Ela alivia o stress. Ela desintoxicava-se do dia -a- dia e da monotonia. Ela apreciava avidamente o silêncio e o contraste entre a azáfama das outras pessoas e a calma dela.
Ela desceu as escadas, entrou na estação e foi para o seu reino encantado.
Ela era eu, pelo menos por 3 horas.